Cibercafés viram minicassinos e geram polêmica nos EUA

Postado por: Julio Portnoy segunda-feira, 10 de maio de 2010 0 comentários


Rick Massa estava passando a tarde de sexta-feira como faz a cada semana, sentado diante de um computador em um canto solitário de um shopping center em Casselberry, Flórida. Sua visita ao Jacks Business Center and Internet Café não tinha por objetivo verificar e-mails ou enviar um fax. E café tampouco o interessa. Massa, 73, estava tentando ganhar algum dinheiro.


Seu passatempo favorito é o Lucky Sevens, um jogo online de sorteios que imita um caça-níqueis mecânico. O cibercafé em que ele estava paga em dinheiro caso o jogador tenha sorte no sorteio. Na sexta-feira em questão, os números giravam nas telas dos 34 computadores do cibercafé, e os clientes ¿ quase todos aposentados - compravam cartões de telefonia que continham senhas para jogar online. A esperança deles era que a sorte os favorecesse.



Mas será que sua atividade constitui um jogo de azar? Os proprietários do cibercafé, que não tem licença para operar como cassino, dizem que não. As autoridades da cidade e região de Casseberry, cerca de 15 quilômetros ao norte de Orlando, sustentam a opinião contrária.
O desacordo se repete em diversos lugares do país, à medida que esse modelo de negócios conhecido como "casas de apostas informais" prolifera, o que causa incômodo às agências policiais e organizações de defesa dos consumidores que se preocupam com a possibilidade de fraudes.


Esses jogos de computador são projetados para se parecer com as máquinas de um cassino, ainda que tecnicamente sejam apenas sistemas de "sorteio". Porque um sorteio tem resultado supostamente predeterminado, e portanto não é jogo de azar, não se enquadra nos regulamentos estaduais para jogos de azar ¿ ou pelo menos é isso que alegam os operadores desse tipo de estabelecimento.
Os cibercafés vêm prosperando acima de tudo por conta das apostas em jogos de sorteio; eles não estão usando esse serviço como incentivo para a compra de outros produtos. Os usuários costumam designá-los como "café-sorteio".



Frustrado em seus esforços de fiscalizar esse segmento de negócios, James Ruf, o chefe da polícia de Casselberry, disse que "ninguém está nos oferecendo orientações claras".
Funcionários dos governos estaduais e de administrações locais na Califórnia, Carolina do Norte, Utah e outros Estados, como a Flórida, estão enfrentando a questão da legalidade desses cibercafés dedicados ao jogo; em alguns casos, as autoridades toleram sua atuação, desde que regulamentada; em outros, os estabelecimentos estão sendo processados, e as autoridades parecem estar vencendo.


"O fenômeno se espalhou tão rápido pela Carolina do Norte que o Legislativo não teve chance de lidar com ele, mas o que temos são cassinos computadorizados explorando os usuários", disse James Johnson, vereador em Wilson, Carolina do Norte. "Aprovamos a instalação do primeiro deles no quarto trimestre, e as queixas começaram a surgir já em dezembro".


A cidade de Wilson não tinha em seus estatutos normas para lidar com cibercafés que operam como casas de apostas, e se viu não só impotente para impor restrições etárias ou de horário, inicialmente, como também se sentindo "um tanto trapaceada", nas palavras de Johnson, por ter confiado que os cibercafés seriam exatamente isso.



"Os cartões telefônicos que as pessoas compram funcionam exatamente como as fichas em um cassino ¿ foi isso que nós não conseguimos compreender inicialmente", disse Johnson, que ajudou a redigir um projeto de lei que regulamenta os cafés que oferecem jogos de aposta, uma atividade permitida nos termos das leis estaduais. "Agora, temos muitos outros governos locais nos procurando para ver uma cópia de nossa lei, porque desejam implementar regras semelhantes em seus territórios".


No condado de Salt Lake, Utah, no entanto, a promotora pública distrital Lohra Miller determinou que um dos cibercafés estava violando as leis estaduais quanto a jogos de azar, e conseguiu condenações contra cinco pessoas ¿ proprietários, usuários e funcionários. Eles enfrentarão multas e a possibilidade de sentenças de prisão de até seis meses. Há quatro outros casos ainda à espera de julgamento.


O Estado de Utah tentou até mesmo tornar mais claras as suas restrições, colocando em vigor este ano uma lei que proíbe jogos em "casas de apostas informais".
Em Roanoke, Virgínia, a polícia do condado diz que percebeu as primeiras atividades locais de cibercafés oferecendo serviços semelhantes a cassinos em abril de 2009. Outras três casas semelhantes foram inauguradas desde então. "Começamos a receber queixas quase que imediatamente", disse o tenente Chuck Mason, da polícia do condado de Roanoke. "Apesar do que dizem os advogados, os moradores locais reconheceram imediatamente que se tratava de jogos de azar".


Muitas queixas foram apresentadas por pessoas que perderam dinheiro nesses estabelecimentos. A polícia deu uma batida em quatro desses cafés duas semanas atrás, e eles foram fechados durante as investigações. "Nós já fizemos numerosas visitas àqueles locais", diz o detetive John Loughery, de Roanoke, "e em apenas uma ocasião encontramos uma pessoa que estava presente para usar a internet".
Os defensores dos consumidores e da saúde pública afirmam que os cafés não estão sujeitos às regras de jogo aplicadas aos cassinos reais, mas têm impacto semelhante sobre os jogadores compulsivos.



Pat Fowler, diretora executiva do Conselho de Apostas Compulsivas da Flórida, disse que dezenas de pessoas recorreram ao serviço telefônico de assistência mantido por sua organização nos últimos nove meses para fazer queixas específicas quanto aos cibercafés de aposta. De acordo com os dados da organização, a maior parte dos telefonemas vinha de mulheres de baixa renda que haviam perdido em média US$ 13 mil em cibercafés de apostas de seus bairros.


"A mensagem que isso está enviando aos legisladores estaduais é a de que eles precisam levar em consideração as leis de jogos de azar e garantir que sejam atualizadas, e que haja limites e regulamentos claros", disse Keith Whyte, diretor executivo do Conselho Nacional de Jogadores Compulsivos. Em Longwood, Flórida, cidade vizinha a Casselberry, o chefe local de polícia, Thomas Jackson, e o detetive Travis Grimm receberam a visita de um homem que lhes apresentou provas de que seu irmão havia gasto US$ 6 mil em três meses em um cibercafé de apostas local, fechado em agosto depois de uma batida policial.


"Sei que um serviço de acesso à internet custa US$ 65 ao mês¿, diz Jackson, "e por isso o fato de ele gastar US$ 2 mil ao mês para acesso à internet não sugere que esteja usando esses estabelecimentos para acionar serviços de busca online".
O gabinete do promotor público estadual da Flórida afirmou que, embora a organização considere que os cibercafés de apostas violam as leis estaduais para jogos de azar, cabe às autoridades locais decidir se há jogo ilegal em curso.



No Jacks, na semana passada, os clientes diziam que apostar custa muito barato (a pessoa participa gratuitamente de um sorteio só por comparecer, e um cartão telefônico de US$ 10 oferece mil chances de vitória). E afirmam que gostam de jogar perto de casa, em lugar de terem de viajar a um cassino.
"É perto de casa e é divertido, o que mais posso dizer?", explicou Elaine Kerry, 84. "É uma coisa que dá às pessoas mais velhas algo para fazer".
Massa, policial aposentado, diz que não abre mão de suas visitas ao cibercafé. A conversa com os demais apostadores é parte importante da diversão. "Se eu tivesse mais dinheiro, abriria um lugar como esse", diz.


Os proprietários do Jacks, Alan Sylvester e Darryl Agostino, insistem em que não estão operando uma casa ilegal de jogo. E embora Casselberry tenha fechado um dos cibercafés de apostas e suspendido a abertura de novas casas, o Jacks por enquanto não parece ter motivo de preocupação.
Ele fica em uma área que não é parte do território do município, e portanto escapa à jurisdição da polícia de Casselberry. "Nós oferecemos um incentivo para a compra de cartões telefônicos", disse Agostino. "E as pessoas realmente gostam desse incentivo".

Fonte Terra

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